Genéricos já têm mais de um terço do mercado
Vendas cresceram 10,34% no primeiro semestre em comparação a igual período de 2019
Por Vladimir Goitia — Para o Valor, de São Paulo
27/08/2020 05h01 Atualizado há um dia
A desaceleração da economia no primeiro semestre e a expectativa de um encolhimento significativo para este ano não afetaram o avanço sustentado dos medicamentos genéricos no mercado nacional. Também não impediram e nem atrasaram decisões de novos investimentos de empresas desse setor.
De janeiro a junho, as vendas desse segmento cresceram 10,34%, ante igual período de 2019, segundo dados do IQVIA, empresa que audita o varejo farmacêutico no país. No mesmo período, o mercado farmacêutico total avançou pouco menos, 8,6%. As vendas no semestre somaram R$ 10,7 bilhões.
Ao todo, 1,5 bilhão de unidades foram comercializadas no primeiro semestre. Com este resultado, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos), o setor alcançou, em unidades vendidas, uma participação de 34,6% no mercado farmacêutico do país.
Telma Salles, presidente da entidade, avalia que a confiança dos médicos nos medicamentos genéricos tem sido um fator decisivo para essa expansão. “A combinação de qualidade e preços menores fazem dos genéricos o motor de crescimento da indústria farmacêutica”, afirma.
Dos 20 medicamentos mais prescritos nos últimos 12 meses encerrados em maio, por exemplo, 15 eram genéricos. Desde que chegaram ao mercado, há 20 anos, os genéricos já proporcionaram mais de R$ 162 bilhões em economia para o consumidor em gastos com medicamentos, segundo Telma. Isso considerando apenas os 35% de desconto previsto em lei. Ao todo, 1,5 bilhão de unidades foram comercializadas no semestre, segundo a PróGenéricos
Em alguns casos, os genéricos chegam a ser até 80% mais baratos do que os medicamentos de referência. Esses descontos, entretanto, estão relacionados a aspectos comerciais e estratégicos de cada fabricante.
Por exemplo, a Cimed, que tem promovido descontos superiores aos da lei, viu suas vendas aumentarem mais de 31% no primeiro semestre, em relação ao mesmo intervalo de 2019, com um total de 64 milhões de caixas.
“Até o fim do ano, a expectativa é vender entre 130 milhões e 140 milhões de caixas. Com isso, a previsão de faturamento da empresa para este ano é de R$ 2 bilhões, 30% acima dos R$ 1,53 bilhão em 2019”, diz João Adibe, presidente da farmacêutica.
Até setembro, a Cimed deve inaugurar a primeira fase de construção de uma nova unidade fabril do grupo em Pouso Alegre (MG), e, em julho do próximo ano, entregar a segunda fase. A empresa investiu R$ 400 milhões nessa planta. Já os investimentos em P&D devem alcançar R$ 80 milhões, acima dos R$ 65 milhões em 2019.
A EMS, líder no segmento desde 2013, vendeu 140 milhões de caixas de medicamentos genéricos até o fim de julho, e a expectativa é comercializar 240 milhões de unidades este ano. No ano passado, a EMS faturou só com sua linha de genéricos R$ 4,5 bilhões e comercializou 201 milhões de unidades. “Para 2020, a expectativa é de 26% de crescimento em faturamento com essa linha de medicamentos”, afirma Aramis Domont, diretor comercial da Unidade de Genéricos da EMS.
O executivo informa que a empresa direciona anualmente 6% de seu faturamento para P&D. Entre 2012 e 2021, cerca de R$ 1 bilhão terão sido investidos nas unidades fabris da companhia (duas em SP, uma no DF e outra no AM), no maior plano de expansão de sua história.
Já as vendas da Sandoz do Brasil tiveram um aumento de 11% até o momento. Segundo o IQVIA, o faturamento da empresa em 2019 foi superior a R$ 720 milhões. A estimativa para 2020 é de crescimento acima de 10%.
“Em nossa fábrica de Cambé (PR) temos capacidade para a produção de 2,2 bilhões de comprimidos por ano e 100 milhões de caixinhas”, diz Érica Sambrano, diretora comercial da companhia. Érica informa que cerca de R$ 13 milhões serão aplicados em projetos de desenvolvimento e, em 2021, a expectativa são R$ 42 milhões.
Em relação aos preços, as três farmacêuticas aplicaram reajuste anual de acordo com a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Esses reajustes foram, em média, de 4% em junho, com um atraso de três meses definido pelo governo em função da pandemia.