Generosos genéricos
EDITORIAL: Generosos genéricos ( Folha de S.Paulo )
02/03/2018 – A analogia entre remédios biossimilares e medicamentos genéricos não soa perfeita, mas tem sua utilidade. Qualquer pessoa pode entender que a lógica por trás dessas novidades é a mesma dos fármacos mais baratos, já consagrados, ainda que os modos de produzi-las difiram em boa medida.
O tema esteve no centro do Fórum Medicamentos Biológicos e Biossimilares, realizado pela Folha. E o seminário deixou patente que há campo aberto para sucesso comparável ao dos genéricos.
O paradigma da indústria farmacológica mudou nas últimas décadas. Antes, quase todos os remédios eram moléculas simples, de síntese química há muito dominada.
Com o tempo, outros fabricantes chegaram ao mercado produzindo medicamentos mais baratos. Eles são vendidos só pelo nome do princípio ativo —os genéricos.
Surgiram então os fármacos biológicos, de estrutura molecular bem mais complexa, que a biotecnologia produz com auxílio de outros organismos, como leveduras. Um dos exemplos pioneiros foi a insulina, para socorrer diabéticos.
Essa primeira geração de biofármacos ainda era pouco complexa, se comparada ao que viria a seguir —os anticorpos monoclonais. Estes, que costumam ter o sufixo “mab(e)” (de “monoclonal antibody”, em inglês), vieram revolucionar o tratamento de vários tipos de tumor e doenças autoimunes.
Não demoraram a surgir outros laboratórios capazes de produzir a mesma classe de moléculas. À diferença dos genéricos, não podem ser consideradas idênticas ao medicamento original, cujo processo de produção é mantido em segredo. São os chamados biossimilares.
Debate-se agora se estes podem substituí-los ou não. Embora contenham o mesmo princípio ativo, rotas biológicas diversas para fabricação resultam em variações pequenas, que por sua vez podem modular o resultado terapêutico obtido. Por tal razão há especialistas contrários a tornar biofármacos e biossimilares intercambiáveis.
Há bons motivos para cogitar prioridade aos segundos. Um deles advém do preço menor: como o Sistema Único de Saúde (SUS) depende de verbas finitas, seria uma maneira de levar remédios de ponta, caríssimos, para mais doentes.
Há também a possibilidade de desenvolver a tecnologia no próprio país, com acordos entre governo, laboratórios e instituições.
Não há por que recear os biossimilares. Basta pesquisá-los e monitorá-los com minúcia, para dar aos médicos o máximo de informação na hora de decidir a melhor conduta para seus pacientes.